MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
O treinador, o presidente, o tesoureiro, o relações públicas são o mesmo rapaz de 30 anos. Estão todos de parabéns.A equipe nem nome possui. A cidade se acostumou com "CBT", a televisão prefere "Teresinense", os marqueteiros não descartam o potencial de "Teresina".Os jogadores são baixos, inexperientes e desconhecidos. A maioria estava fora do mercado.A receita nem de longe empata os modestos R$ 20 mil mensais de despesa e só saiu do zero porque os pais de garotos dos times de base organizaram uma vaquinha e a prefeitura aceitou contribuir.Mas a ousadia da idéia, a coragem política de levá-la adiante e o empenho em realizá-la desmoralizam de antemão os que pinçam um dos motivos acima para desqualificar o novo clube do Piauí.O primeiro representante do Nordeste em um torneio nacional masculino de basquete merece aplausos, e não a pilhéria fácil.O projeto coincide com a trajetória de Chiaretto Costa, técnico há 13 anos e devoto da bola laranja há 21, desde que irmã Glorinha catou-lhe no pátio do colégio Maria Auxiliadora, no Recife, e disse: "Ei, grandinho, avise sua mãe que você vai praticar basquete".Chiaretto tem duas escolinhas em Teresina. Iniciou no esporte cerca de 3.000 garotos -entre eles, 5 dos 12 que estrearão no dia 29, contra o Paysandu.Há cerca de dois meses, ele ouviu falar da Nossa Liga, campeonato independente que nasceu da insatisfação dos clubes com os pedágios e favores cobrados pela confederação brasileira.Telefonou para Oscar Schmidt, o idealizador do novo torneio. "Não imaginava que ele iria me atender", festeja o faz-tudo. "Mas ele conversou comigo, me ouviu. Eu nunca tinha sido ouvido."A boa surpresa serviu de incentivo extra. O time foi criado a toque de caixa. Treinadores até então rivais se uniram. Prefeito e governador juntaram forças. Cerca de 2.000 piauienses abraçaram Oscar em agosto. Vinte e duas pessoas se dispuseram a ajudar a levantar a infra-estrutura. Uma clínica de cardiologia fechou patrocínio. A TV local já negocia a transmissão de todas as partidas.Muitos em Teresina ainda desconfiam, claro. Não porque a equipe careça de predicados técnicos ou de instalações modernas -mas porque, assim como Chiaretto, não estão acostumados a receber a atenção do eixo Rio-SP.O Piauí encontra-se tão à margem do basquete de alto rendimento que até aqui nem sofreu pressões por ter aderido à NLB.Não que esteja imune à vileza política. Não pôde jogar, por exemplo, o último interestadual de base. A confederação só enviou passagens aos que votaram cordeirinhos na última eleição. O Piauí foi riscado; Roraima não.É justamente por causa disso que o grito teresinense tem tanta importância. Um país excluído há de perceber que pode participar. Os piauienses, aliás, já estão recebendo várias ligações dos vizinhos. Gente que quer jogar basquete, que quer ver basquete, que vai acabar provando que o esporte é bem maior do que uma sigla.O que começa nesta noite não é a NLB; é o Brasileiro, finalmente.